Eu sabia que alguma coisa estava errada. Não que houvessem coisas certas em minha vida, porque de certo nunca houve nada, para ninguém. Não se iluda.
O desconforto se estabeleceu sobre mim.
Eu, recém devolvido às ruas, expulso do ninho de ratos. Eu sabia que as manifestações socialistas levaria-me à algum lugar, só não esperava ser invadido. Corpo quebrado, um andar meio torto, ausência de preocupações médicas e resmungos silenciados por noites.
Eu só não queria que me dissessem que rótulo beber num sábado a noite. Mas agora, definitivamente, nesses poucos e recém dias livre, alguma coisa estava errada.
Mariana era uma garota... Não, mulher! De curiosos hábitos. E entre alguns percebidos por mim, o seu desprezo pelo tempo que se era desperdiçado para arrumar os cabelos, pintar as unhas, aversão a vestidos rendados, olhos vazios e limpos, pele neutra, tão clara que absorvia as sombras todas em pontos concentrados da sua face, dando-lhe uma feição quase mórbida.
Comecei a perceber a ânsia pelo que vinha fazer a me procurar.
Funcionário de uma loja de temperos, seu confidente culinário, mas ainda não convidado para um banquete, se é que me entende. Certamente a minha curiosidade se confirmaria em alguns dias, sobre suas artimanhas dos lençóis. Mas ela teria coisas de veraz interessantes além de poder satisfazer meus prazeres "carnais"... Ou não. Essa questão é um tanto irônica e verá por que.
Em meu apartamento, finalmente. Melhor por dizer, meu alugado, fedorento, sujo, escuro, abafado e podre apartamento. Esse cheiro me incomoda de tal forma que encontrei meu consolo no fumo. Antes um tabu, desconsiderável para mim. Não é preciso detalhar quanto o detestava se podendo saber que suportei meus sete anos na prisão sem ele. A partir de agora, eu e o cigarro compartilhávamos mais do que apenas o desgosto de uma maioria: o cheiro. E não foi para enaltecer introspectivamente minha angústia, mas selecionei a marca pelo grau de densidade de sua fumaça, espalhando vários deles acesos pelo meu espaço, que já se assemelhava a uma fossa. Tomei o costume pelo fumo depois que percebi que o cheirar constante dele amenizava o terror que o apartamento causava em minhas narinas e à meu pulmão (mesmo apodrecendo). Meu corpo estava satisfeito e agradecido. Não me sinto mais tão morto agora, pois havia começado a pensar que era eu quem estava apodrecendo.
Posso me sentir mais em casa com os mendigos e meu instinto consumidor, e foi em uma das ruas de comércio local que eu reencontrei a mais exótica das minhas clientes. Começamos por conversas leves, mas o comprido dia que insistia que nos conhecêssemos intimamente. Deu-se tal profundidade na ligação de nossos espíritos que no fim eu já não queria ir pra casa. Mas foi num bocejo de suas olheiras que às três horas e vinte minutos da madrugada, decidimos ir conversando para casa e em sua porta, surpreso, sugeri que dormisse na casa de seu vizinho, pois não suportava os insensos que se percebia a presença mesmo que sua porta não fosse aberta, mas qual eu abri foi de onde passaríamos uma noite de sexo em sonolência que o vinho também soube influenciar de maneira divina, o intermédio da terra e o paraíso de meus sentidos, a minha.
Carinhos macios e de lentidão extrema, como se gritassem com uma raiva calma e ardente para o tempo, quual a indiferença que sentimos em relação a ele, e o desprezamos toda noite, em outro paralelo, com olhos serrados. A noite acabou, o dia raiou e estávamos de volta. Ao abrir os olhos após aceitar que estava acordado, perceber ela ali e seu passado dormindo a seu lado, qual ela o havia deixado retornar a si, inevitavelmente, como, qual acompanha a aurora, o sol que aquecia seu corpo todos os dias (e como eu gostava daquela pele "fria-arrepios") para a lembrar de que a noite em sua perfeição sempre se quebra por sua fragilidade. E foi nesta vez que o suicídio me veio a cabeça e me aproximei muito disso. Mas ela pensou que eu estava apenas tomando um ar quando estava nu na varanda, de frente para rua, naquele quinto andar, e sua voz me fez abrir um sorriso de infelicidade quando me disse com olhos fechados "eu adoraria um abraço".
O meu trabalho após aquele dia começou a durar eternidades, de tamanho semelhante a ansiedade de minha volta pra casa na esperança de vê-la. Não conversei uma única vez sobre ela com ninguém, a queria definitivamente apenas para os meus pensamentos, mesmo agora que nos víamos todos os dias. Nunca a vi falando com ninguém que não tivesse vendendo alguma coisa ou pregando algo que não era de seu interesse e logo eram dispensados de maneira rude, e suas roupas e olhares a ajudavam a dizer isso de modo tanto eficaz quanto. Era extremamente feliz por isso. Mas o nosso passado ainda era desnecessário e não conhecido por ambos. E na minha solidão mórbida, era um dependente e curioso.
Aceitando um convite insistente, fiz uma visita à minha única. É claro que a dor de cabeça - causada pelo incensos - do dia seguinte valeu a pena. E sua constante influência em meu pensamento havia se intensificado alguns dias anteriores ao que diz respeito a existência do "imperceptível comum". Mas quando entrei - mais que em sua casa, em seu universo, sua aura - aqueles livros cheios de poeira aumentando meu interesse por seus conhecimentos, foram me tornando seu discípulo, mas claro que por minhas ações, eu queria fazer parte daquilo mais do que apenas compreender, aumentando a sintonia entre eu e ela, nós e tudo. Ver seus sorrisos mais vezes e saber sobre o que ri me satisfaria inexplicavelmente. Praticantes do ocultismo fazíamos todo tipo de ligação e nos envolvíamos com tudo aquilo de pagão e mal conceituado para a maioria - que tanto ignorávamos. Sem mais detalhes.
A rotina era muito mais do que apenas do que reclamar do tempo, do baixo movimento da loja, do baixo salário, as contas que se acumulavam por isso, da minha aceitação desse baixo salário devido a origem de minha chegada até onde estou. Agora era tempo de ignorar a tudo e me fazer valer de um tempo fora desses universos. À noite era sempre sensacional. As descobertas iam se tornando cada vez mais intensas e as noites em claro estavam se tornando mais frequentes. Mas antes de prosseguir com os resultados, vamos à Arché dos nossos estudos.
É claro que compreendemos a presença de algo que deu início à toda forma religiosa. Encontramos essa evidência em Deus, nos vários deuses da Wicca, nas interpretações Cabalísticas. Quero dizer: agora eu compreendo. É importante, antes de mais nada, ter a consciência de uma integridade nos nossos atos... ou não. Mas o fato era, antes de mais nada, o paladar. As experiências que nos valíamos partia desse grande sentido. Sim... Canibalismo Cabalístico, foi o nome que surgiu.
O desconforto se estabeleceu sobre mim.
Eu, recém devolvido às ruas, expulso do ninho de ratos. Eu sabia que as manifestações socialistas levaria-me à algum lugar, só não esperava ser invadido. Corpo quebrado, um andar meio torto, ausência de preocupações médicas e resmungos silenciados por noites.
Eu só não queria que me dissessem que rótulo beber num sábado a noite. Mas agora, definitivamente, nesses poucos e recém dias livre, alguma coisa estava errada.
Mariana era uma garota... Não, mulher! De curiosos hábitos. E entre alguns percebidos por mim, o seu desprezo pelo tempo que se era desperdiçado para arrumar os cabelos, pintar as unhas, aversão a vestidos rendados, olhos vazios e limpos, pele neutra, tão clara que absorvia as sombras todas em pontos concentrados da sua face, dando-lhe uma feição quase mórbida.
Comecei a perceber a ânsia pelo que vinha fazer a me procurar.
Funcionário de uma loja de temperos, seu confidente culinário, mas ainda não convidado para um banquete, se é que me entende. Certamente a minha curiosidade se confirmaria em alguns dias, sobre suas artimanhas dos lençóis. Mas ela teria coisas de veraz interessantes além de poder satisfazer meus prazeres "carnais"... Ou não. Essa questão é um tanto irônica e verá por que.
Em meu apartamento, finalmente. Melhor por dizer, meu alugado, fedorento, sujo, escuro, abafado e podre apartamento. Esse cheiro me incomoda de tal forma que encontrei meu consolo no fumo. Antes um tabu, desconsiderável para mim. Não é preciso detalhar quanto o detestava se podendo saber que suportei meus sete anos na prisão sem ele. A partir de agora, eu e o cigarro compartilhávamos mais do que apenas o desgosto de uma maioria: o cheiro. E não foi para enaltecer introspectivamente minha angústia, mas selecionei a marca pelo grau de densidade de sua fumaça, espalhando vários deles acesos pelo meu espaço, que já se assemelhava a uma fossa. Tomei o costume pelo fumo depois que percebi que o cheirar constante dele amenizava o terror que o apartamento causava em minhas narinas e à meu pulmão (mesmo apodrecendo). Meu corpo estava satisfeito e agradecido. Não me sinto mais tão morto agora, pois havia começado a pensar que era eu quem estava apodrecendo.
Posso me sentir mais em casa com os mendigos e meu instinto consumidor, e foi em uma das ruas de comércio local que eu reencontrei a mais exótica das minhas clientes. Começamos por conversas leves, mas o comprido dia que insistia que nos conhecêssemos intimamente. Deu-se tal profundidade na ligação de nossos espíritos que no fim eu já não queria ir pra casa. Mas foi num bocejo de suas olheiras que às três horas e vinte minutos da madrugada, decidimos ir conversando para casa e em sua porta, surpreso, sugeri que dormisse na casa de seu vizinho, pois não suportava os insensos que se percebia a presença mesmo que sua porta não fosse aberta, mas qual eu abri foi de onde passaríamos uma noite de sexo em sonolência que o vinho também soube influenciar de maneira divina, o intermédio da terra e o paraíso de meus sentidos, a minha.
Carinhos macios e de lentidão extrema, como se gritassem com uma raiva calma e ardente para o tempo, quual a indiferença que sentimos em relação a ele, e o desprezamos toda noite, em outro paralelo, com olhos serrados. A noite acabou, o dia raiou e estávamos de volta. Ao abrir os olhos após aceitar que estava acordado, perceber ela ali e seu passado dormindo a seu lado, qual ela o havia deixado retornar a si, inevitavelmente, como, qual acompanha a aurora, o sol que aquecia seu corpo todos os dias (e como eu gostava daquela pele "fria-arrepios") para a lembrar de que a noite em sua perfeição sempre se quebra por sua fragilidade. E foi nesta vez que o suicídio me veio a cabeça e me aproximei muito disso. Mas ela pensou que eu estava apenas tomando um ar quando estava nu na varanda, de frente para rua, naquele quinto andar, e sua voz me fez abrir um sorriso de infelicidade quando me disse com olhos fechados "eu adoraria um abraço".
O meu trabalho após aquele dia começou a durar eternidades, de tamanho semelhante a ansiedade de minha volta pra casa na esperança de vê-la. Não conversei uma única vez sobre ela com ninguém, a queria definitivamente apenas para os meus pensamentos, mesmo agora que nos víamos todos os dias. Nunca a vi falando com ninguém que não tivesse vendendo alguma coisa ou pregando algo que não era de seu interesse e logo eram dispensados de maneira rude, e suas roupas e olhares a ajudavam a dizer isso de modo tanto eficaz quanto. Era extremamente feliz por isso. Mas o nosso passado ainda era desnecessário e não conhecido por ambos. E na minha solidão mórbida, era um dependente e curioso.
Aceitando um convite insistente, fiz uma visita à minha única. É claro que a dor de cabeça - causada pelo incensos - do dia seguinte valeu a pena. E sua constante influência em meu pensamento havia se intensificado alguns dias anteriores ao que diz respeito a existência do "imperceptível comum". Mas quando entrei - mais que em sua casa, em seu universo, sua aura - aqueles livros cheios de poeira aumentando meu interesse por seus conhecimentos, foram me tornando seu discípulo, mas claro que por minhas ações, eu queria fazer parte daquilo mais do que apenas compreender, aumentando a sintonia entre eu e ela, nós e tudo. Ver seus sorrisos mais vezes e saber sobre o que ri me satisfaria inexplicavelmente. Praticantes do ocultismo fazíamos todo tipo de ligação e nos envolvíamos com tudo aquilo de pagão e mal conceituado para a maioria - que tanto ignorávamos. Sem mais detalhes.
A rotina era muito mais do que apenas do que reclamar do tempo, do baixo movimento da loja, do baixo salário, as contas que se acumulavam por isso, da minha aceitação desse baixo salário devido a origem de minha chegada até onde estou. Agora era tempo de ignorar a tudo e me fazer valer de um tempo fora desses universos. À noite era sempre sensacional. As descobertas iam se tornando cada vez mais intensas e as noites em claro estavam se tornando mais frequentes. Mas antes de prosseguir com os resultados, vamos à Arché dos nossos estudos.
É claro que compreendemos a presença de algo que deu início à toda forma religiosa. Encontramos essa evidência em Deus, nos vários deuses da Wicca, nas interpretações Cabalísticas. Quero dizer: agora eu compreendo. É importante, antes de mais nada, ter a consciência de uma integridade nos nossos atos... ou não. Mas o fato era, antes de mais nada, o paladar. As experiências que nos valíamos partia desse grande sentido. Sim... Canibalismo Cabalístico, foi o nome que surgiu.
CONTO - O ASSOALHO